Lei da Oferta e da Loucura

Segundo dados da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Ministério da Economia, nos últimos 10 anos, desde 2009, a participação do minério de ferro na pauta das exportações brasileiras passou de 8,7% sobre o total exportado em 2009, chegou a 16,3% em 2011 e fechou 2018 com 8,4%.

Em 2011, o minério de ferro era o principal item das exportações brasileiras com quase 42 bilhões de dólares FOB. Sendo que em 2009 as exportações para a China cresciam de maneira surpreendente, mesmo em meio a forte crise. Nessa época as demandas eram falsas, pois a China se estocava, comprando mais do que consumia. Porém, em 2012, após as exportações terem crescido a ponto desse País tornar-se o principal cliente das exportações brasileiras, passamos a amargar quedas sucessivas das exportações de minério de ferro para o mercado chinês.

Desde 2014 as exportações de minério de ferro foram superadas pelas exportações de soja e em 2018, o Brasil exportou em valores de minério de ferro, menos da metade dos valores das exportações de soja. O total das exportações de minério de ferro foram de 20,2 bilhões de dólares FOB contra 40,9 bilhões de dólares FOB de soja.

O PDCA 2019 – Prospectors and Developers Association of Canada com realização nos primeiros dias de março, é o mais importante evento mundial do setor de mineração. Durante o evento, no discurso do Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, a ênfase foram as intenções que prometeram encorajar investimentos no setor de mineração brasileiro. As promessas foram oferecer a geração de garantias de segurança nas atividades do setor e segurança jurídica, tentando sinalizar oferta de meios para produção, empreendedorismo, investimento e consequente geração de emprego.

No discurso do Ministro está a afirmação de que a mineração se consolida como uma das forças motrizes da economia nacional. Entretanto, a mineração já foi a principal força motriz da economia brasileira e perdeu esse poder pela falta de atitude com maturidade e responsabilidade dos administradores do Estado Brasileiro. O discurso do Ministro está pleno de palavras que podem afirmar boas intenções. Mais do que palavras, para o bom desempenho de setores de tão grande importância para a economia brasileira, precisamos de gestores com competência estratégica.

Permitir exportações crescentes sob falsa demanda de consumo é fator de risco para a capacidade comercial e as estratégias de mercado. O Brasil vem perdendo participação entre os exportadores mundiais de minério de ferro há mais de duas décadas como resultado de sucessivos erros na gestão da participação brasileira nos mercados internacionais (FIGURA 1). Em 1998 éramos líderes mundiais na exportação de minério de ferro, o Brasil respondia por 32% do total mundial e em segundo lugar, a Austrália respondia por 21% dessas exportações. Foi em 2006 que a Austrália superou as exportações brasileiras, assumindo a liderança no ranking mundial. Essa posição é mantida até hoje, com participação crescente ano após ano das exportações do minério australiano.

Some-se a isso a importância estratégica do minério de ferro, muito superior a importância estratégica da soja para os mercados internacionais e vemos novamente a miopia administrativa dos gestores do Estado Brasileiro. Atrair investimentos e produzir é insuficiente. É necessário visão sistêmica e o entendimento de que aquilo que é produzido terá de ser comercializado de forma apropriada. Sem estratégia comercial de nada adianta o esforço para produção. Produzir mais sem inteligência comercial significa aumentar oferta sem convergência com as demandas de consumo. Todos conhecem a lei da oferta e da procura: mais oferta sem procura coerente resulta em margens menores e queda nos preços para colocar o que foi produzido. Então, diante do discurso do Ministro Albuquerque apenas resta mudar o nome da “Lei da Oferta e da Procura” para “Lei da Oferta e da Loucura”.

CARMEN THOMAZI – carmen@davinciprojetos.com.br

Engenheira Química e diretora na Da Vinci Projetos. Membro do conselho de gestão de várias empresas e docente na Educação Executiva da Faculdade FIPECAFI. Possui experiência em gestão de processos e gestão de pessoas. Executa o planejamento, organização e direção em projetos de gestão sistêmica e educação corporativa.